Apresentação da paciente:
A paciente não confiava na sua capacidade de lidar com a vida. Ela sempre se sentia insegura e sozinha, não conseguia confiar nos seus pais e não se sentia apoiada. Ela era obrigada de se sair bem na escola e se sentia culpada quando não conseguia. Na escola ela sofria com insultos de professores que criticaram a sua personalidade quieta. A paciente passou um tempo no exterior. Quando ela voltou para Brasil, ela se sentiu muito oprimida pelo pai e obrigada a trabalhar numa profissão que desgosta. Insegura no seu tratalho e apavorada de cometer um erro, ela experimentou vários sintomas desagradáveis de ansiedade. No início do tratamento a paciente teve muito medo de acessar o seu inconsciente, sentindo que iria ser sobrecarregada pelas lembranças. Nas primeiras sessões conversamos sobre os seus sonhos vividos e construimos um laço de confiança o que a permitiu acessar suas lembranças de forma metafórica.
Fotografia de Jörg Garbers |
Transcrição de duas sessões metaforicas:
Primeira sessão
A paciente visualiza um homem caindo dentro de um buraco, Ele tenta subir e transforma num monstro. Ele fica maior que o buraco. A paciente se sente flutuando. Uma pessoa com um saco na mão está coletando tudo, analisando os objetos, jogando os fora e queimando. Uma pessoa caminha na rua. A paciente se sente mal e suas mãos duras. Um homem fecha a sua boca e a estrangula. Um ser divino pega as suas mãos e outros puxam as suas pernas. Ela está transformando num arame. Pássaros estão sentados no arame. Eles a pintaram branco em cima e preto embaixo. O corpo não está encaixando direito. Ela tenta serrar as pernas para invertê-las, mas elas não encaixam mais. As pernas estão tortas. O preto está subindo, cobrindo o corpo todo. Tem pontos brancos. Ela arranca umas partes pretas, achando partes brancas embaixo. Tem uma cobrinha embaixo que está a observando.
Segunda sessão
A cobrinha está enrolada e confinada. De repente a cobrinha está esticada e morta. Alguém está segurando a cobrinha, a cortando como um troféu. A cobrinha está chorando, sendo jogada no lixo. A paciente se sente muito triste. Ela tenta juntar os pedaços, alisando a cobrinha no seu colo. Ela leva a cobrinha para uma cobra grande, pedindo curá-la. O homem reaparece. Ela o mata com muita raiva. A cobra grande a ensina juntar as partes, mas a paciente não sabe como. O homem, coberto de sangue, quer ajudar. Ele deita ao lado da cobrinha, se tornando um com ela. De repente a cobrinha está viva e feliz. A paciente pega a cobrinha e coloca uma coleira nela, levando a cobrinha para passeiar. A cobrinha não gosta. A paciente tenta pôr roupas na cobrinha, mas ela não gosta. A cobrinha fica braba e se esconde num buraco. A cobrinha não quer mais papo. A cabeça da cobrinha reaparece do buraco e ela se enrola envolta da paciente. A paciente gosta muito da cobrinha. Tudo está em paz.
Interpretação:
Interpretação:
A cobrinha representa a parte mais instintiva da paciente. Ela me explicou que o homem na história é o seu pai. Somente o homem que destruiu a cobrinha pode curá-la. A cobrinha não quer ser adestrada, mas respeitada. A recuperação dos instintos é essencial para o processo da cura. É muito interessante observar o trabalho dos pacientes no nível metafórico. Frequentemente aparece um animal, quase um totem, representando a parte instintiva do paciente. No meu próximo post eu vou apresentar uma paciente que visualiza a sua parte instintiva como dragão.