Apresentação da paciente:
A paciente me procurou depois de algumas sessões frustrantes com EMDR clássico. Ela pareceu muito confusa e aflita em relação à sua vida profissional. Ela se sentia culpada por achar que estava desobedecendo a vontade de Deus de ser missionária. Ela sentia muito medo do diabo e relatou que fez parte de uma seita religiosa. A paciente contou que estava muito ligada ao seu pai que fazia tudo o que ela pedia. Ela sempre convivia com gente muito pobre, se sentindo culpada por ter mais condições. Ela se sentia obrigada de ajudar pessoas com problemas, sempre querendo pagar. A paciente se queixou de enxaquecas frequentes.
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Ilustração: Filipe E. da Silva |
Terceira sessão
A paciente volta mais uma vez para a sua segunda moradia. Ela se vê como menininha. Ela sai da casa muito feliz. A sombra está presente, mas ela não se sente presa. Ela cai na lama. A menina está chorando. Ela sai da lama num pulo, se despedindo da casa, voando no céu azul, transformando numa menina grande, correndo pelas ruas da cidade. A igreja está destruida. Ela vai adiante para a próxima casa no seu tamanho normal, fugindo do monstro que não é mais ela. A paciente entra na sua terceira casa pelo telhado. Tem três casas no mesmo terreno. O seu pai fez muitas festas. Na sala de TV passa o filme „O exorcista“. Ela senta numa rede e vê um urso. A casa é grande e escura. Um ladrão entra a casa. Aparece um missil e desaparece. Uma mão está a puxando. A paciente sente sombras e opressão. Ela voa em cima da casa. O urso transforma num homem de sunga. Tem muitos bichos em volta. Ela mata os bichos. A sombra a leva. O monstro sai de dentro dela para defendê-la. Um homem está em frente dela. Ela está agoniada por causa dos monstros, atirando neles. Está ficando mais claro. Monstros e o exorcista estão aparecendo na estufa. Ela está indo atrás deles, procurando em todos os cantos escuros, atacando eles, às vezes transformando num monstro. O homem a pega. Ele quer transar com ela e está se esfregando nela. Ela corta o pinto dele e tira a pele dele. Ela destroi a sua casa e constroi uma nova, clara e bonita, sem cantos escuros. Ela tira o muro de folhas e o substitue por vidro. A paciente me conta que ela se sentiu obrigada a começar sua vida sexual cedo. Ela perdeu a sua virgindade com treze anos. Ela se vê com muita dor, perdendo sangue, se sentindo estuprada. A paciente vai para a sua quarta casa. Ela vê uma bomba nuclear. Ela transforma num monstro de pedra. Monstros estão comendo a sua família, expulsando ela como monstro. Ela sai voando e volta como menina. Uma sombra entra no seu corpo. Ela fica possuida. Ela cresce e pede ajuda a Deus. Ela devora uma bíblia. O monstro dá ordens. Ela o endireita no nome de Jesus e volta como menininha meiga. Ela destroi a casa com um trator e se pergunta como reconstruir a casa. Tem que ser clara, com uma piscina, com muita luz e vidro, com um jardim e o cachorro solto. Ela livra os passarinhos e reconstroi uma casa muito linda. Ela se confronta com a sombra e abraça a sombra. A sombra a beija e eles vão para praia. A paciente me conta que ela conheceu seu namorado pelo computador. Ela sente que ela quer passar tempo com ele. "É ele! Quero estar com ele para sempre!“ Ele a abraça forte. "Tu não precisas me forçar!“ Ela mergulha na sombra e volta como moça adolescente usando um biquini.
Tentativas de interpretação:
Em três sessões terapêuticas a paciente abordou muitas questões não resolvidas da sua infância, incluindo abuso, sentimentos de abandono e opressão espiritual. Ela processou e libertou sentimentos de abandono e ódio usando figuras metafóricas como o monstro. O aparecimento do menino é muito interessante por causa de traços masculinos da paciente. A paciente sentiu a sua primeira relação sexual como estupro mesmo sendo consensual. Ela obviamente não estava se sentindo pronta, mas se sentiu obrigada pelas amigas. É muito interessante observar o aparecimento de forças construtivas depois de uma explosão de raiva reprimida. As casas são reconstruidas de forma agradável. Ferramentas metafóricas que se mostraram útéis, são reutilizados pelo inconsciente.
Semana que vem vou lançar a quarta sessão da paciente!
Semana que vem vou lançar a quarta sessão da paciente!