Monday, June 13, 2016

Terapia metafórica: "O lobo, o tigre e o dragão" (parte 2)

Apresentação do paciente:
Quando o paciente me procurou, ele relatou vários eventos traumáticos da sua vida, muita solidão na pré-adolescência e decepções amorosas. Atualmente ele estava sofrendo com os processos alimentícios da sua ex-esposa que estavam tirando a sua paz. Na nossa primeira conversa nada indicou um sofrimento tão profundo como achei nas consultas seguintes trabalhando as marcas do seu inconsciente com EMDR-J. Fiquei impressionada com a profundeza do trabalho do paciente e a sua facilidade de acessar os seus conflitos no nível metafórico. Em seguida apresento os transcritos de sessões intensas e impressionantes.

Fotografia: João Felipe Garbers


Segunda sessão
O paciente visualiza o seu beliche num dia de sol. A profundidade do quarto está alterado. Ele está fazendo um tour pela casa. A casa está vazia. Lembranças misturam com um sonho. Entram lembranças noturnas, um susto durante a madrugada. Um caminhoneiro ligou o caminhão. Um sonho de um objeto voador numa noite clara em frente da janela da cozinha. O paciente tem a sensação de estar preso, amarrado a algo, sempre sozinho. Ele visualiza um local desconhecido com várias casas, ninguém por perto e um caminhão o perseguindo. Vem flashes da época de escola e do trabalho. Ele fica na dúvida se ele se isola ou as pessoas o isolam. Ou ele se isola porque já foi isolado. Vem cenas do trabalho dele se isolando. Parece que vai entrar algo, mas fica bloqueado. Aparecem cenas da infância na casa da vó brincando com o primo. Ele fica confuso e inerte. Parece que nada faz sentido. O paciente se sente angustiado. Ele lembra da casa da madrinha. Ele gostava de jogar videogame com o primo e era criticado por isso. Ele lembra do vô e do tio da mãe. A imagem fica escura. Vem a sensação de medo de um filme sobre espíritos que ele viu na sua sala. Ele se vê indo embora numa noite de chuva com medo. Ele está indo para a casa do irmão mais velho da mãe, se sentindo perseguido. Ele visualiza um nada e depois uma corda sem início nem fim nem emenda. A corda é dourada e continua na caixa do nada. Tem asas no chão. Não se pode tocá-los. Ele sonha frequentemente que está voando. O vôo é controlado no início e depois perde o controle, está na mão do copiloto. A cidade está fora de escala. Pequeno, grande, o vôo é reto. De repente bagunça tudo. Tem um portal, um buraco e está chovendo imagens. Tem um castelo, perseguição e seres não humanos dentro de armaduras medievais. Dentro da armadura está tudo escuro. Aparece uma imagem acordando de um pesadelo com um corte no peito. O paciente se viu como uma criança olhando para o nada, tentando entender tudo. O nada transforma e transforma de volta. Ele olha pela janela da cozinha. A cozinha está vazia. O vô está ali. Aparecem flashes de coisas que fizeram. Ele não vê o rosto do vô. São flashes na terceira pessoa e longes. O paciente tem a impressão que o vô é cinza e meio borrado. Ele continua vendo o vô de longe. Tem uma tristeza no ar, uma melancolia. A tia que faleceu também apareceu. Parece que o vô estava triste. Alguns anos depois da morte dele o vô falou para o paciente: "Estou decepcionado com você!" O paciente visualiza um muro e só vê os tijolos. Parece uma parede. Não tem para onde ir. Parece um quadrado e só dá para ver para frente. Está chovendo.  Ele está deitado com a chuva caindo na sua cara. Está escuro. Tem focos de luzes da rua, uma imagem refletida no vidro como no ônibus. É sua imagem, mas não é o seu rosto. Tem um olhar perdido sem pensamento nenhum. Ele gosta de chuva e lembra de muitas imagens de noites chuvosas com luzes no fundo. Momentos tranquilos!

Leia mais na semana que vem!