Monday, June 6, 2016

Terapia metafórica: "O lobo, o tigre e o dragão" (parte 1)

Apresentação do paciente:
Quando o paciente me procurou ele relatou vários eventos traumáticos da sua vida, muita solidão na pré-adolescência e decepções amorosas. Atualmente ele estava sofrendo com os processos alimentícios da sua ex-esposa que estavam tirando a sua paz. Na nossa primeira conversa nada indicou um sofrimento tão profundo como achei nas consultas seguintes trabalhando as marcas do seu inconsciente com EMDR-J. Fiquei impressionada com a profundeza do trabalho do paciente e a sua facilidade de acessar os seus conflitos no nível metafórico. Em seguida apresento os transcritos de sessões intensas e impressionantes.

Fotografia: João Felipe Garbers

Primeira sessão
Começamos o processamento da vida do paciente acessando a sua primeira casa da infância. O paciente visualiza a cortina da sala no período noturno. Eles escutavam música. O vô morou com eles. Ele sente tristeza e solidão. Ele lembra da prima e da sua necessidade de vê-la. Eles tinham uma ligação forte na infância. Ele se sentia deslocado, como se não pertencesse à família. A sua vida só fez sentido nos finais de semana. O paciente lembra quando buscava a mãe meia-noite junto com o pai de ônibus no trabalho. Ele lembra das luzes e da melancolia. Vem a memória da casa da vó com todos juntos e logo lembra do vô doente, da morte do vô, da tia e do outro vô. Ele fala que não gosta de páscoa e outros momentos religiosos por causa da hipocrisia. Quando ele tinha dez anos, ele teve que ficar na vó por causa da catequese. Ele chorava de noite, se sentiu meio abandonado e se culpava por sentir assim. Voltando para a cena inicial da cortina e da tristeza, o paciente visualiza uma janela aberta. Está chovendo, é escuro lá fora. Aparece um reflexo abstrato. Ele lembra dos medos da sua infância. Ele tinha medo de ir da sala para o seu quarto sozinho. Ele temia principalmente o quarto dos pais e tinha pesadelos envolvendo o guarda-roupa dos pais. Nos pesadelos ele via a porta do guarda-roupa se abrindo, algo saindo e o agarrando. O paciente visualiza a porta branca do banheiro e uma chave. A porta fechava sozinho. Sempre parecia que alguém estava atrás dele: uma figura preta, às vezes demônios. Agora a sala não é escura e o quarto é branco. Ainda existe algo preto com ele, ainda se sente trancado. Ele absorveu tudo que temeu. Ele vê sua sala, a janela e o corredor. Ainda ele está sozinho. No seu quarto tem mais uma figura de ilusão, um unicórnio de olhos vermelhos. Ele se sente preso e continua no quarto sentado na cama. De repente as lembranças pulam uns anos para frente quando ele teve uma pequena paixonite e escreveu o nome dela no seu beliche.

Leia a continuação das sessões na semana que vem!