Thursday, November 12, 2015

Terapia metafórica: "Dançando com um vampiro" (parte 1)

Introdução:
A abordagem terapêutica metafórica está abordando os conflitos do paciente na linguagem própria do inconsciente que nós conhecemos dos nossos sonhos. Através da sua criatividade, usando cores, símbolos e imagens, o paciente trabalha os seus assuntos pendentes com a ajuda de estimulação bilateral. Nessa abordagem o inconsciente toma a liderança. O paciente está simplesmente acompanhando e observando a mudança de cena, imagens e acões. Nem sempre o paciente entende o significado daquilo que ele observa. É surpreendente como através de um caminho totalmente diferente o paciente consegue resolver os seus conflitos internos, achando paz e organização emocional.

Desenho: F.H. Thomsen

Apresentação da paciente:
A infância da paciente era marcada por muitos medos e ansiedade. Ela foi criada num ambiente religioso e teve muito medo de manifestações sobrenaturais e bonecos. A paciente descreveu a sua mãe como muito exigente e recorda muitos conflitos com a sua mãe. Ela sofreu com lembranças dolorosas em relação a um namoro possessivo de vários anos. A paciente se descreveu no início do tratamento como workaholic, confusa, sensitiva e agitada.

Procedimento terapêutico tratando a infância da paciente:
Depois de uma anamnese detalhada, a terapêuta começou tratar a infância da paciente aplicando movimentos bilaterais. A terapêuta pediu para pensar na primeira casa da paciente. P.Y. acessou imediatamente o nível metafórico. Em seguida a autora apresenta uma transcrição literal das três primeiras sessões terapêuticas.

Primeira sessão 
Pensando na primeira casa da sua infância, a paciente tem a impressão que a casa é muito grande. Tem uma tempestade ao redor da casa. Ela tem receio de entrar, mas ela entra. Uma grande solidão espera ela, muitas coisas são escondidas, ninguém vem. A mãe não tem tempo. Ela entra numa bolha, ela vê uma criança, a bolha está estourando. Ela não se sente mais impotente. Ainda está escuro. Ela passa por um corredor com imagens da sua vida. Atràs das imagens está escuro. Ela chama pelo Espírito Santo. Tudo está em preto e branco. Ela entra nas imagens com óculos de proteção. Ela tem uma sensação ruim, olhando para bonecos. Serpentes estão a paralizando. Só o nariz está livre e ela sente que vai morrer. Ela tem que reagir. Uma espada está crescendo do seu braço e desaparece de novo. Ela entra em areia movediça, boiando para sobreviver. Sabendo que ela vai morrer, ela olha para o céu. Ela vê chuva e lama. A paciente se vê pelada, exposta, agoniada. Ela não acha roupas. Rolando na grama, de repente se encontra numa floresta encantada. A paciente se sente conformada mas também tem escuridão. Ela começa cantar para esquecer a escuridão. Eles a acham, uma raiz está a pegando, tentando puxa-lá embaixo da terra. Ela está escondida, confinada mas sem se sentir ameaçada. Ela se encontra numa caverna, com poderes malignos que vão libertá-lá. Ela sai da caverna com asas de vampiro. É um vampiro sensual, cuspindo areia da boca como no filme da múmia, caçando um animal. É um javali. O vampiro grande está encontrando com ela. Ela está à altura dele. Ela entra o castelo de Dracula, mas ela não tem medo. O vampiro propőe um negócio. Eles conversam através de telepatia. Ela não quer ficar presa no castelo. Ela não vai vender a sua liberdade. A paciente sai do castelo sem medo.

Segunda sessão
A paciente está vendo duas meninas de idades diferentes, caminhando e rindo no parque. As duas fazem parte da paciente. Uma é boa e a outra é ruim. A ruim é mais poderosa. Ela tem dentes e devora a boa, frágil branca. A grande tem um espírito vingativo. A branca está no estômago da outra. O tempo passa e a branquinha começa crescer, ficando com traços adultos. Elas estão fundindo como ying e yang. Uma perna é preta e a outra branca. A paciente experimenta um conflito interno, quase a rasgando, sangrando. Um homem de chapel aparece no fundo. A preta está com raiva e a branca está chorando. A branca está crescendo. Ela se sente feliz, está dançando, se sentindo livre. A outra está murchando. A branca entrou num barco, procurando sentido de vida, esperança e optimismo. A preta virou uma mancha. A branca procura amor com um coração pulsando. A paciente vê pessoas compostas de preto e branco com a parte preta se sobressaindo. Uma sombra está crescendo. A branca está confinada e expulsa pela vagina. Ela não tem força para crescer. Ela começa crescer mutilada, sem braço, pedindo misericórdia. A preta deu um braço. A parte preta não tem controle. Elas estão fundindo, agora com mais equilíbrio. O coração bate nas duas. A parte preta quer fugir num disco voador. De novo a branca não tem força. A parte preta tem compaixão. Elas estão fundindo, transformando em cinza. A sensação melhorou. A cinza procura sentido, absorvendo cores através do convívio com as pessoas. Ela ganhou força e tamanho.

Terceira sessão
A paciente está brincando com as suas irmãs, feliz. De repente ela sente medo. Tem um espírito por perto. Elas acham que é um E.T. A paciente tem certeza que ela foi abduzida. Eles a pegaram para estudar. A paciente mata o E.T., transformando em vampiro. No corredor e no banheiro tem E.T.s e demônios. Quando ela está sozinha, eles a atacam. Ela tem medo do box do banheiro. O vampiro, a preta e a branca estâo juntos. A branca está quase invisível. Sempre de noite as forças malignas aparecem. Elas se sentem assombrados, com medo. A porta está batendo. A paciente conta que a sua mãe ia para um terreiro de Umbanda. A paciente está vendo vultos. Os vultos querem que ela tem medo e sofre. O vampiro come uns vultos. A branquinha dá força para a preta e o vampiro. A paciente sente dor de estômago. Os demônios arrancam a cabeça da branquinha. A vampira cresce e coloca uma bolha em volta da casa, puxando os vultos para inferno. A preta está levando os vultos para inferno. A paciente de novo sente o seu estômago. Os demônios estão arrancando a cabeça da branquinha. Ainda tem um bichinho na garagem. A paciente tem medo dele. Demora para caçar, amarrar e mata-lo. A paciente vê um cemitério cheio de vultos. A vampira e a preta estão limpando, levando tudo para cima. A branquinha está cantando. A garagem está limpa. Nos quartos ainda tem almas penadas. Pegando os vultos pelos cabelos, a paciente tenta engoli-los mas eles não digerem. A branquinha tirou uma flauta e a música está os desmanchando. A paciente vê um altar de Seicho-no-ie para os antepassados. A branquinha está multiplicando os instrumentos, direcionando a música contra os vultos. A preta e a vampira estão descansando e dançando. A casa está ficando mais leve. A família está reunida na sala. A branquinha ficou grande e age como guardião. Todos estão descansando na companhia da vampira e da preta. A família está bem mas ainda podem vir  influências de fora. A vampira, a preta e a branquinha fundiram.

Tentativas de interpretação:
A preta, a branquinha e a vampira são figuras diferentes do inconsciente do paciente. A vampira parece ter a função de proteger a branquinha. No início ela está muito frágil mas está ganhando força durante o processo, Preto e branco está lutando para achar harmonia. Nem boa demais nem ruim demais. Nem impotente demais, nem braba demais. A branquinha está aprendendo se defender, usando armas bondosas. No final do processo as três figuras integram.