Tuesday, January 31, 2017

O pesadelo

Introdução:
Todos nós experimentamos sonhos bons e ruins. Chamamos os sonhos ruins de pesadelos. Mas você já parou para pensar o que é um pesadelo? O inconsciente absorve todas as impressões e vivências de um dia, de uma semana, de uma vida toda. Quando dormimos, essas vivências são processadas. Quando esse processo ocorre sem problema, o nosso sono não é interrompido por pesadelos. O pesadelo aparece quando um evento traumático "engasga" e não pode ser processado. Isso ocorre frequentemente depois de um acidente, assalto ou estupro. Pesadelos de perseguição podem estar relacionados com vivências de ameaça na infância ou de eventos mais recentes.

Pintura em óleo de Fuseli "O pesadelo"


O que fazer quando pesadelos perturbam o sono?
Não adianta tomar remédio para dormir. Remédio para dormir não permite o sonhar induzindo um sono bem profundo. Em função disso os eventos do dia não são processados. As consequências podem ser severas. Além disso esses remédios viciam e tem fortes efeitos colaterais. Se você sofre com pesadelos, procure um psicólogo! O pesadelo é um sinal que tem sentimentos engasgados que precisam ser processados. No meu consultório trabalho com um método chamado EMDR-J que é extremamente útil para tratar traumas. Esse método entra no pesadelo, processa ele "de dentro" e acessa as causas ocultas.

Conclusão:
Pesadelos são mensagens do inconsciente que indicam que sentimentos e eventos não foram processados adequadamente. Procure ajuda de um psicólogo! Remédios para dormir não são a solução é podem agravar o problema.

Saturday, January 21, 2017

Quantos amigos tens?

Introdução:
Quantos amigos tens? No Facebook, no Instagram, no trabalho ou na vida particular? Como alemã que mora mais do que vinte anos no Brasil me chama atenção que o brasileiro parece tão amigável, porém tem poucos amigos. Colegas sim, e muitos, mas amigos de verdade são raros. Me perguntei por que? Vou me arriscar e expor alguns pensamentos.


O que dificulta a amizade?

1. Superficialidade e ostentação 
Nos encontros sociais geralmente as pessoas querem causar uma impressão de perfeição. Roupa de marca, celular da última geração, papo de viagens e aquisições. Dificilmente alguém fala das suas lutas e emite uma opinião sincera. 

2. Inveja e possessividade
Amizade se torna muitas vezes inviável quando tem um desnível social. A parte economicamente mais fraca se sente envergonhada e humilhada. Outro inimigo da amizade é a possessividade. "Fez um jantar e não me chamou?" Na minha opinião não somos donos dos nossos amigos. Ele tem o direito de ter amigos diferentes e não tem obrigação de chamar sempre todos.

3. A comunicação indireta
Um fenómeno muito comum nesse país é a comunicação indireta. Se teve uma ofensa, a pessoa se afasta alegando outros compromissos e o problema não é mencionado nem resolvido. Se dá um tempo e o tempo cria afastamento. Às vezes tem uma reaproximação, mas nunca mais é o mesmo.

4. Expectativas exageradas 
Amigos não são perfeitos, porque ninguém é perfeito. Amigos vão te decepcionar. Se tu esperas que teu amigo nunca vai te magoar, sempre vai te dar atenção e te ajudar, tu nunca vais achar amigos. Amigos são pessoas com defeitos, com problemas pessoais e nem tudo é contra a tua pessoa. O seu amigo pode se encontrar numa fase ruim e por isso te machuca.


Conclusão:
Quer cultivar amizade verdadeira? Fale das suas lutas e não se esconda atrás de uma fachada perfeita. Evite amizade interesseira. Alegre-se com o sucesso do outro. Compartilhe os seus amigos sem ciúmes. Tu não es dono de ninguém e amigo não precisa ser exclusivo. Se teu amigo te ofende, fale com ele a respeito. Não se afaste dando desculpas. Não espere perfeição. Ninguém é perfeito! Amizade verdadeira precisa de anos para ficar forte e deve ser capaz de sobreviver diferenças de opinião e status social.


Sunday, January 15, 2017

Pessoas são como vinhos ...

Introdução:
Nas minhas últimas férias passei com meu marido por uma vinícola em Bento Gonçalves e aprendi muito sobre vinhos e espumantes. Ouvindo as explicações da nossa guia sobre vinhos simples e complexos não pude deixar de refletir sobre as pessoas que eu conheci durante a minha vida e em 17 anos de consultório.

O que vinhos e pessoas tem a ver?
Não espere dos vinhos simples que eles melhoram com o passar do tempo. Abre logo a garrafa que contém um vinho simples e barato. Divida a garrafa com os amigos e se divirta. Vinho simples não melhora com a idade, ele somente caduca. Mas os vinhos complexos tem potencial! Quando são jovens parecem agressivos demais. Porém com o tempo e paciência esses vinhos tem o potencial de se tornar um vinho fantástico. 

Pessoas simples e pessoas complexas:
Nos 47 anos da minha vida conheci pessoas simples e pessoas complexas. Pessoas simples não evoluem. Eles simplesmente envelhecem. Curta a sua companhia, mas não espera demais! Pessoas complexas porém são facilmente descartadas como agressivas, desajustadas ou loucas. Espera e acompanhe a evolução delas! Vale a pena. Com a idade e a experiência essas pessoas podem se transformar e evoluir de uma forma inacreditável. Elas são complexas, facilmente se enrolam dentro do próprio cérebro, não se entendem, mudam rápido, parecem instáveis, hiperativas e desajustadas. São pessoas que precisam de acompanhamento. Lembro da moça da vinícola falando sobre os espumantes. A garrafa é girada de tempo em tempo só um pouquinho e o resultado é um espumante espectacular. 

Conclusão:
Se você se considera uma pessoa desajustada, pare para pensar. Talvez seja um "vinho complexo" e você simplesmente precisa de paciência consigo mesmo e pessoas que de vez enquanto dão uma "giradinha". Talvez você tem um filho ou um cônjuge complexo. Tenha calma! Essas pessoas tem um grande potencial de evolução. 

Monday, January 9, 2017

Terapia metafórica: "Caçando vultos" (parte 11)

Apresentação da paciente:
A paciente me procurou depois de algumas sessões frustrantes com EMDR clássico. Ela pareceu muito confusa e aflita em relação à sua vida profissional. Ela se sentia culpada por achar que estava desobedecendo a vontade de Deus de ser missionária. Ela sentia muito medo do diabo e relatou que fez parte de uma seita religiosa. A paciente contou que estava muito ligada ao seu pai que fazia tudo o que ela pedia. Ela sempre convivia com gente muito pobre, se sentindo culpada por ter mais condições. Ela se sentia obrigada de ajudar pessoas com problemas, sempre querendo pagar. A paciente se queixou de enxaquecas frequentes.

Ilustração: Filipe E. da Silva

Décima primeira sessão
Voltando para seu relacionamento não resolvido, a paciente se vê no bairro de D. Ela se encontra na casa da mãe de D. Está quieto. Tem uma sombra coma voz de demônio. Ela retorna para a sala com um sentimento ruim. Ela está com raiva. A paciente abre o telhado para iluminar a casa. Ele ainda é um demônio. Águias entram a casa para pegá-lo. As águias estão comendo as sombras. A paciente se sente triste. Ela não quer que ele morra. Está escuro. Ela assiste um filme com ele. Ela vai para o telhado e voa com uma águia. A águia está comendo as nuvens. É um dia ensolarado. Ela o pede para ir para praia. Eles estão sentados no sofá. Ele tenta tirar as roupas dela. Tem demônios no andar de cima. Ela come os demônios. Ela destrói o guarda-roupa, soprando bastante. Ela é arremessada para longe. O urso grande pisa nele. Ela o salva para cuidar dele. Ele transforma num verme e entra nela. O urso remove o verme e a protege com uma armadura contra a volta dele. A cidade tem uma vibração ruim. Ela chama ajuda divina para reformar todos os lugares, deixando tudo bonito. 

Interpretação:
A paciente está processando o seu relacionamento com D., trabalhando a sua raiva, seu medo e o desejo de ajudá-lo. Ela vizualiza ele a tratando muito horrível. Na vida real ele nunca abusou dela fisicamente, mas aparentemente seu inconsciente se sentiu abusado e incapaz de soltá-lo. O pensamento de voltar para a cidade onde o namorou, deixou ela doente. Ela acessou seus assuntos não resolvidas, usando recursos de outras sessões como o urso, ajuda divina e o engolir.

Conclusão:
A paciente conseguiu resolver em somente onze sessões sua infância, seu relacionamento com seus pais, experiências de abuso, vivências traumáticas numa seita e um relacionamento emocionalmente abusivo com um namorado. Depois do tratamento a paciente conseguiu visitar a cidade onde ela namorou D. e até voltar a morar lá. As produções metafóricas eram muito intensas e vivas, refletindo raiva reprimida e a sua liberação.

Monday, January 2, 2017

Terapia metafórica: "Caçando vultos" (parte 10)

Apresentação da paciente:
A paciente me procurou depois de algumas sessões frustrantes com EMDR clássico. Ela pareceu muito confusa e aflita em relação à sua vida profissional. Ela se sentia culpada por achar que estava desobedecendo a vontade de Deus de ser missionária. Ela sentia muito medo do diabo e relatou que fez parte de uma seita religiosa. A paciente contou que estava muito ligada ao seu pai que fazia tudo o que ela pedia. Ela sempre convivia com gente muito pobre, se sentindo culpada por ter mais condições. Ela se sentia obrigada de ajudar pessoas com problemas, sempre querendo pagar. A paciente se queixou de enxaquecas frequentes.

Ilustração: Filipe E. da Silva

Décima sessão 
Ainda processando o seu relacionamento com D., a paciente vê Hercules descendo com asas e flechas. Ela transforma num animal selvagem e se esconde. Ela sai do seu buraco no chão, toda suja. Ela transforma numa criança e se esconde na casa da mãe de D. Ela se sente presa. D. é um vulto, abraçando a criança. Ela está correndo. Hercules volta. Ela grita: "Eu não quero!“ D. está a caçando em forma de vulto. A paciente se vê como criança, vindo e indo. Ela experimenta muitos sentimentos. Ela pula nos ombros de Hercules. Flechas estão passando pelo vulto. A paciente se sente impotente. "Você acha que vai se livrar de mim tão fácil?“ A paciente pede ajuda divina. Está escuro. Ela está se sentindo medrosa, sozinha e presa num buraco escuro. Está muito escuro e vultos estão a tocando numa casa. É penumbra. Ela deita desistindo. Alguma coisa está asoprando e clareando a penumbra. A fumaça desaparece. Ela abre o portão da casa da mãe de D. Ela o engole aparecendo como vulto. Ela o prende dentro dela, segurando a respiração. Hercules o coloca num vidro e fecha o vidro. Ela quase morre junto com ele. Ela é toda preta. Ela explode o vidro, uma energia preta saindo dela. Ela transforma numa criança. A energia preta trata mal a família dele. A criança é inocente. A preta está destruindo tudo e a criança a segue. A criança e a preta estão brincando. A preta constroi um trono. Ele está fazendo graçinhas com a criança. A cena é muito estranha. A criança entra a sua boca. Ele espirra e muitas meninas saem. O monstro transforma num bebê. Eles levam o bebê para alguém. Uma mulher aparece, pega o bebê e o amamenta. Tem mais menininhas. "Vocês não vão crescer!“ De repente tem uma parte branca e preta. Duas partes se afastando. A criança as aperta e elas se tornam beige. A criança tenta desesperadamente uní-las. Ela as une com raiva. Elas estão lutando. Finalmente a criança está caminhando ao lado da beige e pega na mão da preta. Elas se beijam e caminham juntas.

Na semana que vem vou concluir a "novelinha terapêutica" com a décima primeira sessão da paciente! Parabéns pela paciência em acompanhar todas as sessões!